quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Velho amigo

Abro a janela para que as coisas aqui dentro possam estar mais claras. Com um giz, desenho imagens encomendadas pelo meu inconsciente. Assim é tão fácil expressar, apenas despejar sobre o papel a vontade, mais tarde, traduzida em coisas que dão sentido. É dessa maneira que gosto de me manifestar.

O sol trás luz e calor. O calor me faz bem. O calor me faz mal. Assim costumam ser as coisas aqui dentro, não seguem uma lógica. Elas se contradizem. E quem disse que nos contradizer não é normal?

Farejando o passado, reencontrei um velho amigo: L.! Tão distante, tão por perto. Tão intenso aqui dentro.

L. está aprendendo a dizer sim a tudo aquilo que um dia teve vontade de dizer, mas não pode, não deu conta.

É, L. CRESCEU. Casou, mudou e não nos convidou. Foi viver no campo. Foi conhecer outros cantos, outros encantos...

L. olhava de longe a porta que estava logo ao fim do corredor. Caminhou devagar, um pouco hesitante, o coração apertado com o medo recorrente que costumava lhe assombrar. Arredou a porta que estava apenas escorada e espiou pela fresta que havia surgido.

- Vem, pode entrar.

O quartinho era meio obscuro. Uma mesa ao centro, a lâmpada mal encaixada no teto iluminava pouco todo o interior do cômodo, alias, iluminava somente o centro para falar a verdade. Os outros estavam sentados, ele, ainda à porta, pensava um pouco antes de tomar qualquer atitude.

Sempre, sempre distante. Aéreo. Assim costumava ser.

Um dos outros arredou uma cadeira para que L. viesse e se sentasse. “E se eu for até lá, como será?”. Ele costumava se lembrar de alguns fatos do passado, esse tão azucrinador em certos momentos. Era de lá que sua insegurança vinha, era de muito tempo.

L. afastou a porta até o canto, caminhou até a mesa e se sentou. E a luz, que falhava, se apagou.

- Quem fechou a janela?

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