domingo, 31 de outubro de 2010

O Encontro

Oi, hoje eu vim aqui só
pra dizer...
Só pra te ver e
tenho dito, e tenho
visto.

E insisto:
Oi, hoje eu vim aqui
pra sorrir.
Mais tarde, quem sabe o
tempo ria - por último -
de todas nossas brincadeiras.
Esses jogos silenciosos.
Jogos de quem olha
e não fala, e pensa
e diz, talvez.

Oi, hoje eu
vim aqui.
Relutei, persisti,
avancei, consegui.
E te vi, ainda de
longe, chegar.

Oi, hoje eu estou aqui.
Vim dizer, vim te ver,
que só olhar já não basta.
Agora vem logo,
me abraça.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Palavra Manchada

Vou desdizer o que disse,
como quem escreve por cima -
e não apaga.

A palavra marcada,
porém escondida.
Borrada.

Já viu borracha apagar
tinta de caneta esferográfica?
Percebe na mancha?
Corretivo algum tampa
a trapaça.

Na farsa,
vejo a máscara
que cai. Que escorre
feito tinta.
Que quebra... que
queda!

Vejo palavra
não-dita, maldita,
que insiste em se
pronunciar.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Viva!

A escrita se faz cada vez mais menos presente. O engraçado é que as ferramentas ainda estão aqui. A angústia diz "presente", a técnica diz "estou aqui", a inspiração completa "já vou!". No entanto, a palavra empaca, a frase não se completa, o discurso não sai.
Esse ano eu tenho visto tudo passar tão depressa. A vontade que tenho é dizer para o tempo: "Pára! Pára com isso. Deixa de pressa!". Mas nem sei se ele iria me ouvir...
Quando menino, o tempo ainda não era vilão... A não ser quando resolvia retardar os dias para o meu aniversário, que não chegava nunca, ou para as férias de julho, o Natal, o dia das crianças... Ai sim ele me fazia raiva. Mas do contrário, era um parceirão. O dia era longo para as minhas brincadeiras e as palavras "cansar" e "preguiça" não faziam parte do meu vocabulário. To começando a achar que esse mundo dos adultos não tem lá muitas vantagens.
Sinto falta de estar envolvido em minhas histórias, de explorar minha criatividade. Tanto tempo que não invisto em algum conto, algum romance inacabado... Pela brevidade das horas, o máximo que me dou ao trabalho é o de escrever alguma poesias para não deixar esse blog às baratas e teias de aranha.
Medo de perder meu lado artista para os meus novos compromissos. Lembro-me que a leitura me levou a escrita, e por gostar de escrever, entrei pro teatro e acabei por me apaixonar pelas artes cênicas. Seja como ator, diretor, "dramaturgo"... Qualquer uma dessas funções me encanta.
No início do ano falei aqui que gostaria de me "organizar" mais, controlar mais. Pois agora a minha palavra de ordem é: perca-se. E completaria com a frase: quebre as regras estipuladas para si mesmo e pare de sofrer! Passei um primeiro semestre "louco". Tentando colocar no lugar toda a minha bagunça subjetiva, desordem mental total. E foi em vão, ou não! Só sei que sofri. Só sei que, quase, enlouqueci - de vez! O certo é que estive bastante doente. Agora nem mesmo uma tosse vem me atormentar.
Como eu disse, agora eu vou me perder para depois me achar e desencontrar mais uma vez. Passarei a vida toda nessa busca, que a gente se veja algumas vezes, mas que a busca seja mais ou tão prazerosa como os encontros. Quero tentar "correr riscos". Improvisar. Vou rasgar meu roteiro de vida. Quero viver livremente, na medida do possível, dentro dos meus limites, ou fora deles. Talvez a palavra certa mesmo seja: viva!