domingo, 24 de abril de 2011

Meu! aniversário

Pensei, repensei. Escrevi, desmanchei... Tentei resgatar o que ainda restava de Filipe no Filipe que sou. Bolei vinte chatíssimos aforismos e quase no final percebi um tanto de mim em mim mesmo. Pelo visto nada mudou e eu continuo vivo! E festejo meu vigésimo aniversário com a emergência de bicho ave recém nascida das cinzas:

A Gravedez de um Mito

O sol provocara
a Terra naquele
dia. Logo cedo
se percebeu 
temperatura d'água
se elevando.

O mar se 
agitava. Espumava, 
tomado por 
tamanha bravura.

Via-se borbulhas: 
moléculas d'água 
engravidando, 
virando bolha.
Bolsa embriagada
de líquido
amniótico.

Era possível 
enxergar o embrião
vermelhosangue
sofrendo mitose:
Bicho se
fazendo ave.

A bolha
se protegia.
Criava casca.
Mantia temperatura 
e protegia sua
cria de outras
vias, de
outras vidas. 

E o bicho
estremecia.
Bicava, bicava
e anunciava
que estava de 
partida.

De fora,
via-se o ovo 
ágiltado.
Fruía de
pouco espaço.

E aos
poucos se
ouvia os
primeiros
pios. E
se via ave
de penas
vermelhofogo
ganhando
corpo.

Renascia
então a fênix.
Bichomito
renegociando
a vida.

Carregava
consigo a
memória de
antigos vôos
com o viço
de uma
nova vida. 

P.s.: Pouco depois de eu ter completado uma década minha mãe se mudou para os EUA e a vida por aqui ficou bem diferente. Do despertar dessa décimasegunda primavera eu espero pelo seu retorno, ambiciono um prazeroso futuro profissional e só peço a Deus que a Arte nunca me abondone, pois sem ela, como diria Renato Russo: "eu nada seria". É isso, um feliz aniversário!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Em queda

 ou de Corvo a Fênix

No céu,
o corvo. Preto 
inconfundível
desfazendo-se
no espaço.

Voar lhe
pedia um esforço
sobre-humano
e ele, na
condição de
bicho-ave,
mal se sustentava
no seu exercício
de espécie.

Suas penas
se soltando...

Cinzas de
uma chama
que não se vê.

Patas
ansiando por
um galho...
um consolo,
um solo que fosse.

Ali estava: Frágil
corpo desfiado. 
Depenado! 

Cai
    indo

L e v e                          

Permitindo
a gravidade
agir. Pesando-lhe
o corvocorpo...

E ele
sumiu, en
      (terra) 
      ndo-se
                 no ar.

Uma hora
ele há de ressurgir.
Como uma fênix
ele renascerá. 
Ah, se há!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Uma tribulação num Minifesto

Às vezes me atribulo: eu não saberei celebrar meu aniversário.


Saberei eu?  
Saberás tu?
Saberá ela?
Saberemos nós?
Sabereis vós?
Saberão eles?


"já nem tudo nem sei
se vai saber a primavera
ou se um dia saberei
que nem eu saber nem ser nem era"

Minifesto, de Paulo Leminski

domingo, 3 de abril de 2011

Ah, se vá

 "Subo nesse palco, minha alma cheira a talco
como bumbum de bEbê, de BeBÊ.
Minha aura clara, só quem é clarividente pode VER.
PoDE ver!"

Palco, na voz de Djavan

As coisas andam bem diferentes, no entanto sinto certa dificuldade para identificar o que realmente mudou. Parece tão sutil, tão mimetizado à vida já vivida que se torna uma dessas palavras-chave para se completar um  caça-palavras ou uma dessas peças-chave que se escondem na multidão de outras peças mais, dificultando a construção do nosso quebra-cabeça. Entretanto, as coisas andam bem diferentes.
Foram tantos os movimentos, tantos corpos, tantas idéias... Tantos e tantas que me deixaram tonto! Inebriado que estou, passo a olhar a realidade de maneira mais irracional, animal. Ligado estou à cada parte do meu corpo... Meu contato com a dança tem provocado parte dessas perspectivas, olhares espalhados pelo meu próprio espaço. O teatro não fica pra trás, ou fica? Se fica, corre e se mostra capaz.
Sinto certa legitimidade no que faço. Tudo parece estar de acordo, embora eu esteja discordando. Afinal, cabe a mim complicar o que certo está. Mania boba ou obsessiva de verificar tudo, entender tudo, explicar tudo. Cansei de psicologar. Quero muito restringir o conhecimento que tenho adquirido à sala de aula. Cansa-me muito reparar em cada ato falho que eu cometo, cada coceira, cada piscar de olhos. Não dá!
Estou amando o curso, ou, os cursos que tenho feito. Psicologia se mostra a escolha certa a cada aula. Todas as áreas parecem me interessar, tudo parece somar ao conhecimento que necessito pra ser psicólogo. Até então, teorias pareciam confrontar umas com as outras, um discurso quase teológico de dono da verdade , parecia emergir de cada vertente. Agora não. Agora elas parecem andar de mãos dadas, somando-se. Psicanálise ainda é minha "menina dos olhos". Ela nos acolhe. Essa semana mesmo eu escrevi no twitter que Freud me entenderia e isso conforta minha alma já tão atormentada.
Continuo estudando teatro e me apaixonando por ele cada dia mais. Estou tão cheio de idéias e a vontade que tenho é a de canalizar tudo isso num processo de criação artística. Vamos ver, né? Enquanto isso continuo a fazer minhas aulas de teatro e participando de todas as oficinas que coincidem com meus horários. 
A dança apareceu na minha vida e tenho flertado com ela. Bebo das suas fontes, pois através delas me sinto mais vivo, mais auto-realizado. É como se fosse tudo o que me faltava até então. Com a dança minha arte parece estar completa. E juntos vamos dialogando e criando minhas instalações efêmeras.
Com tudo, sigo eu nessa vida em auto-relevo, cheia das (falsas) evidências. Continuo lendo meus livrinhos de literatura brasileira minha predileção; continuo a frequentar minhas aulas, prestando bastante atenção, fazendo minhas anotações e curtindo muito meus amigos; continuo, principalmente, a me contaminar por todos os cantos, todos os meios pelos quais eu ando e desando, embriagando-me de todos e tudo.
Descobri que tudo está em movimento, a todo o tempo. Por mais que pareça que não, as coisas vão mudando e nem sempre se encarregam de mostrar explicitamente o que está acontecendo. E tais coisas não param, pois o próprio parar é também movimento, só que lento. E nos acomodamos a novos esquemas, às vezes mais rapidamente, às vezes nem tanto. Mas o divã se encarrega do que nós mesmos não damos conta de carregar. Ah, se vá.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Pelo movimento, entre

O corpo ainda vibra.
Provoca outros
tantos movimentos...
Ensaios para uma
vida inteira.

Chega! Chega
de vida vivida
pelas metades...
Chega de meios termos,
meiopasses, meios
e meias estirados
na cama. Embolados.

Há uma racionalidade
no irracional. Um entredito
no não dito que diz
mais do que quando
se almeja expressar.
O jeito é não se
importar mesmo!
E deixar-se falar
por si. Quem?
Sabe-se lá.

Enquanto isso
eu vou compondo
minha dança,
provocando meus
desequilíbrios
no ofício de
ser sem descanso,
sem descaso.

Digo e repito:
viva pela parte inteira,
não pelas beiradas.
Senão você come
as etapas
e se engasga.
E perde direito a tapas
e esfregas, meras
tentativas de
extirpar o insólito
sólido mal
degustado, mal
compreendido.

Viva pelo
instinto, pelo
pulso. Viva pelo
puro movimento
que te mantém
nesta vida.
Viva!