sábado, 4 de outubro de 2008

O Rinoceronte


O Rinoceronte de Eugène Ionesco é fantástico. Terminei de lê-lo hoje, dia 4 de outubro. É uma história muito profunda, de influências, cheia de metáforas e simbolismo. A aparição de um rinoceronte, a princípio, causa uma confusão na cidade. Várias indagações a respeito do animal, de sua origem, se era bicórnio ou unicórnio... Só que com o tempo, as pessoas começam a transformarem-se em rinocerontes também.

Claro, como eu já havia começado a falar, essa figura do rinoceronte é uma metáfora. Há uma influência de idéias, valores morais que vão mudando as pessoas. De forma voluntária ou involuntária.

Jean: Moral! Lá vem a moral! Estou farto de moral! É linda a moral! É preciso ir além da moral!

Bérenger: E que é que você põe no lugar dela?

Jean: A natureza!

Bérenger: A natureza?

Jean: A natureza tem as suas leis. A moral é antinatural. [...]

Bérenger: Reflita um pouco. Você sabe muito bem que nós temos uma filosofia que esses animais não têm. Um sistema de valores insubstituíveis! São séculos de civilização humana!

Jean: Derrubemos tudo isso! Assim ficaremos melhor!”

Acho que o livro discute o sistema, capitalismo, socialismo, anarquismo, comunismo, nazismo, tudo isso que faz parte da nossa história; a Igreja também... Tudo o que mexe com o pensamento.

É um assunto muito complexo, nem sei condensa-lo em um texto. Não tenho tantas propriedades para isso.

Só sei que o livro traz essa mensagem. Trabalha a questão da influência, em massa, do pensamento e o processo todo que isso leva. É curioso ver como, gradativamente, as pessoas da cidade vão transformando-se em rinocerontes.

Chega a um ponto que eles se tornam a maioria e causa a discussão do que é o “normal”? Ser humano, ou como os outros? E esse pensamento também ajuda na própria transgressão do ser. Hoje em dia, por exemplo, quando vejo mais e mais pessoas fazendo coisas que acho ilícitas... Pergunto-me, o diferente sou eu? O errado sou eu? E muitas vezes, esse tipo de questionamento é um passo para a transformação.

Daisy: Afinal, talvez sejamos nós que precisemos ser salvos. Talvez os anormais, sejamos nó.

Bérenger: Você está delirando, Daisy; você está com febre.

Daisy: Você está vendo mais alguém como nós?

Bérenger: Daisy, não quero ouvir você dizer uma coisa dessas! ”

Acho que certas mudanças na sociedade causam uma série de discussões em nossas cabeças, mas nunca se sabe se serão para o bem ou não.

Bérenger: [...] Ah! Como eu me arrependo. Devia ter seguido todos eles, enquanto era tempo. Agora é tarde demais! Infelizmente, eu sou um monstro, sou um monstro. Infelizmente, nunca serei rinoceronte, nunca, nunca! Nunca mais poderei mudar. Gostaria muito, gostaria tanto, mas já não posso. Não quero nem olhar para minha cara. Tenho vergonha! Como eu sou feio! Infeliz daquele que quer conservar a sua originalidade! Muito bem! Tanto pior! Eu me defenderei contra todo o mundo! Minha carabina, minha carabina! Contra todo mundo, eu me defenderei! Eu me defenderei contra todo o mundo! Sou o último homem, hei de sê-lo até o fim! Não me rendo!”

ps. Esse livro é um clássico do Teatro do Absurdo.

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