terça-feira, 7 de outubro de 2008

Perigrinações em Itabira


Cheiro de cidade antiga, Itabira. Nunca gostei muito de poesia alheia, porque não entendia. Mas lá em Itabira, fui entender melhor, principalmente as de Drummond que até então detestava. Saímos de Belo Horizonte numa sexta de manhã e chegamos lá na hora do almoço. Estávamos realizando um sonho de minha tia Márcia, uma apaixonada por Drummond.

Fomos eu, minha tia Márcia, tia Lúcia e meu tio Alfredo. Fui com um certo ar de preconceito, não fazendo muitas expectativas. Chegando lá já comecei a formar opiniões ao ver aquela típica cidade do interior que está se urbanizando. Não via arquiteturas antigas, ruas de pedras, essas características de cidades históricas do interior de minas.

Fomos procurar um hotel para ficar. Um hotel que fosse perto dos centros históricos para que fosse fácil ir a pé, pois meu tio Alfredo iria visitar um amigo em Itambé, então não poderíamos contar com um carro e “motorista”. Foi ai que minha decepção acabou, chegamos na parte “velha” da cidade, onde, aí sim, encontrei “minha” arquitetura antiga.

Ficamos hospedados no hotel Itabira, onde era a antiga casa do Barão de Alfié. Lá foi fonte de inspiração para dois poemas de Drummond, José e Sobrado do Barão de Alfié. Um lindo casarão adaptado para ser um, diga-se de passagem, ótimo hotel da cidade.

Nos acomodamos no hotel, almoçamos e ai sim começamos nossas peregrinações.

Mudei totalmente meus conceitos, no mesmo dia em que chegamos fomos visitar o museu da cidade, a casa de Drummond, a igreja Nossa Senhora do Rosário e o Centro Cultural de Itabira. Foi o maior barato. Estávamos tão cansados porque já tínhamos conhecidos tantos lugares, mas minha tia Márcia queria porque queria ir ao Centro Cultural naquele mesmo dia. O pessoal do museu tinha falado que lá tinha uma estátua de Drummond por lá.

Tia Lúcia, coitada, nem emitiu opinião. Ficou calada, estava tão cansada que queria voltar para o hotel, mas como tia Márcia estava tão decidida, resolveu nem falar. Eu já estava fazendo movimentos inconscientes com a perna, já não as sentia muito bem. Nós demos uma volta inexplicável, só depois fomos descobrir que a rua em frente o hotel caía diretamente na avenida do Centro Cultural. Mas quando chegamos lá, foi só “festa”, tiramos fotos e mais fotos com a estátua, de todos os jeitos possíveis. Tudo para valer a pena a tal caminhada.

Depois voltamos para o hotel. Lúcia tinha chegado inspirada, digamos que um tanto atormentada. Cismou em fazer poesia, deitada na cama, escrevia em um rascunho com sua caneta recém chegada de Paris ( trazida de presente de uma amiga, Maria Luiza). Assim dizia a todo momento quando perdia a tal caneta de vista: “Ai meu Deus! Cadê a minha caneta de Paris?”. E eu achando a maior graça. No final das contas a inspiração de minha tia rendera uma bela poesia, na qual todos ficaram surpresos quando chegamos da viagem. Lá também fiz algumas poesias, mas nenhuma falando da viagem.

No outro dia acordamos cedo, tomamos café da manhã. E que café da manhã! Estava excelente. Eu não estava muito animado, mas minhas tias insistiam em caminhar. Resolvemos fazer um percurso até a casa de Drummond, iríamos andar até lá novamente e depois do almoço pegaríamos um ônibus para ir no Memorial de Carlos Drummond de Andrade.

E valeu a pena, conheci lá no Museu, que fica em frente a casa de Drummond, um senhor chamado Aníbal. Muito inteligente, não sei porque mas a imagem dele na minha frente falando sobre política, poesia, história e vários outros assuntos, questionando o governo e a sociedade me lembrou bastante Sócrates. Podem rir bastante, mas me veio tal relação na cabeça.

Para concluir minha peregrinação a Itabira... Fomos ao Memorial. Particularmente, achei tudo muito pobre de informações. Mas lá, tinham livros dele, alguns de outros autores que dedicavam livros a ele, inclusive o livro de Melhores Contos de Sabino. Tinha também a máquina de escrever de Drummond e várias fotos.

Para fechar com chave de ouro, ou melhor, chave de minério de Itabira, fomos a Fazenda do Pontal. A fazendo do pai de Drummond. Andamos igual condenado. Se um dia resolver fazer tal viagem a Itabira, vá de carro. Foram tantos morros para chegar até a fazenda. Lúcia não se agüentava, tive que empurra-la morro acima. Márcia andava três léguas atrás de nós dois.

Mas valera a pena todas essas aventuras. Ri demais com minha tia Lúcia, pena que não posso recomendá-la como companheira de viagem porque é particular. No final de todas visitas minha tia Márcia queria chamar um táxi lá da fazenda, estava traumatizada com o tanto morro. Mas tia Lúcia já avisara: “pra descer, todo santo ajuda”. Se ajudou, eu não sei, mas que chegamos todos sãos e salvos lá no hotel, nós chegamos.

Lá encontramos meu tio Alfredo, que queria saber se iríamos embora no sábado mesmo ou se sairíamos no domingo de manhã. E a resposta veio a cavalo igual a vontade de ir embora, afinal, já havíamos terminado nossas peregrinações e não havia porque continuar na cidade natal do poeta maior Carlos Drummond Andrade.

Filipe Arêdes

19/08/2006

ps. A foto aí em cima, é na estátua do Centro Cultural de Itabira.

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