terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Ulisses e Lorely:

A Origem da Primavera ou A Morte Necessária em Pleno Dia

, queria eu poder descrever aqui com a mesma linguagem primorosa da Clarice Lispector sobre o seu livro Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres. É tão lindo, de uma delicadeza imoral. Clarice acaba por nos deixar estupefatos, em puro êxtase. É um verdadeiro convite ao descobrimento do nosso mundo. Um desabrochar, um permitir, uma coragem e tanta!

"amor será dar de presente um ao outro a própria solidão?"

Provei de uma alegria mansa. Deparei com as minhas angústias ali descritas, de uma maneira tal, que eu jamais poderia exprimir por mais que eu me espremesse! Ela nos toma pela mão e nos leva a uma descoberta plena de nós mesmos através da dor através do amor!

"Naquela hora da noite conhecia esse grande susto de estar viva, tendo como único amparo apenas o desamparo de estar viva. A vida era tão forte que se amparava no próprio desamparo."

Está aí o que eu preciso. Ter a coragem necessária de me amparar no desamparo, de me equilibrar nessa corda bamba, de ser por mais que me doa, por mais que eu me sinta frágil... E quando o aperto chegar, quero poder rezar como nossa querida Lorely  faz no seu tão amiúde desespero:

"alivia minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte e sim a vida, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que eu receba o mundo sem medo, pois para esse mundo incompreensível nós fomos criados e nós mesmos também incompreensíveis, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão que como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade e paciência comigo mesma, amém."

E toda essa descoberta não seria mesmo possível sem que Deus estivesse ali para amparar, quero dizer, sem que Ulisses estivesse ali para desamparar, digo regar, adubar mesmo de longe. Era preciso ter paciência e aguardar pela primavera. E Ulisses a guardou:

"– Lóri, disse Ulisses, e de repente pareceu grave embora falasse tranquilo, Lóri: uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra pra frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso."

E nessa espera Lóri foi se desencontrando do mundo, foi se desconhecendo no espelho, foi se despindo de muitos outros conceitos que nem ouso balbuciar. Lóri se desnudou até sentir-se crua o suficiente para dizer:

2 comentários:

Luana Motti disse...

Clarice, Clarice...

martamendes@correios.com.br disse...

Estou descobrindo Clarice Lispector através de você!!!
Também li suas poesias viu, e o que vejo, sentimentos a flor da pele,vejo seu caminho se apresentando devagarinho e lindo.
Beijos!
Tia Marta
OBS: Segue o link que promti mandar sobre ações
http://www.bmfbovespa.com.br/home.aspx?idioma=pt-br